São já cerca de 1.500 os refugiados saídos de África, rumo à Europa, que morreram no Mar Mediterrâneo desde o início deste ano. Adjectivos não faltam, seguramente, para descrever o drama das longas viagens sem retorno que fazem milhares e milhares de refugiados políticos, refugiados de guerra, refugiados da fome e de outras perseguições, com o desespero e a esperança em cada um dos pratos da balança da própria vida.
Já muitos falaram e escreveram acerca da necessidade de a União Europeia tomar uma atitude conjunta e firme para travar ou, pelo menos, minimizar estas avalanches humanas, "condenadas" que estão a ficar nas mãos de traficantes sem escrúpulos e, sobretudo, na gaveta de baixo das prioridades dos governantes europeus (e não só). Eles, os emigrantes, constituem a base da pirâmide, não causam mossa de terrorismo nas nossas ruas, morrem entre eles... enfim, estão habituados à miséria e pouco mais acabam por ser do que meras estatísticas e votos de pesar nos livros de História. Isto pensarão alguns de nós, que ficamos mais chocados com um piloto tresloucado que matou 149 pessoas nas montanhas francesas, ou com um atentado ao jornal satírico "Charlie Hebdo". As tragédias, as loucuras humanas, não se medem pela quantidade de mortos, está visto, pois há umas que chocam mais do que outras. Pensamento errado e perigoso. A União Europeia tarda em colocar na mesa uma política comum e, mais do que isso, agir de forma colectiva e não olhando para o próprio umbigo.
Uma das provas disso mesmo é o facto de que, pelo menos até à hora em que escrevo este texto, não ter conhecimento de manifestações de rua a clamar por ajuda às vítimas do tráfico de seres humanos, bem como por acções firmes contra estes carrascos, que matam homens, mulheres e crianças sem qualquer escrúpulo.
Aguardemos para ficar a saber o que decidem os líderes europeus, na cimeira extraordinária de depois de amanhã. Se é certo que não existem curas milagrosas para uma tragédia com tais dimensões, seguro é que a União Europeia (e o Mundo) pouco têm feito para combater o tráfico de vidas nesta região do Mundo.
|
Foto: http://blogs.ft.com/the-world/2015/04/europes-mediterranean-crisis/ |