sábado, abril 10, 2021

segunda-feira, junho 29, 2015

Lição 1: arranjar o nó da gravata antes de sair de casa

A campanha eleitoral para as legislativas já começou, pese ainda quem ache que o país vai a banhos e, portanto, o que se fizer agora não tem grande importância política mais lá para a frente. Refiro-me a dois casos que vi nas televisões e me deixaram a pensar se, de facto, os cuidados com a Comunicação também entraram em período de austeridade. Retiro daqui explicitamente os ecos que esses dois momentos tiveram nas redes sociais, hoje em dia promovidas indignamente ao patamar de fazedoras de opinião. Mas isso dará pano para outras mangas.

O primeiro desses momentos aconteceu quando Pedro Passos Coelho teve a ideia de se fazer entrar numa escultura feita em metal por Joana Vasconcelos (“Casa de Chá”) para o Portugal dos Pequenitos, em Coimbra, por ocasião da comemoração dos 75 anos daquele espaço. Logo esta originalidade foi aproveitada pelos seus críticos, uns com comentários sarcásticos, outros com tiradas menos felizes. Mas, mesmo em situações descontraídas, como era este o caso, os actores públicos não podem dar o flanco. E Pedro Passos Coelho fê-lo, colocando-se atrás de grades. Para evitar momentos destes é que os especialistas em Comunicação devem manter a guarda alerta. Mesmo a espontaneidade deve ser trabalhada. O filme “O Candidato”, protagonizado por Robert Redford, é um belíssimo exemplo (e estamos a falar da América dos anos 1970) de como as equipas por detrás dos políticos, ou candidatos a, podem e devem influenciar o que eles fazem.

O segundo caso terá passado mais ou menos despercebido, mas nem por isso deixa de merecer reflexão. Aconteceu quando António Costa, líder do PS e candidato a primeiro-ministro, se deslocou ao Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, para saber “in loco” do estado de saúde de Maria Barroso. Os primeiros comentários de António Costa emitidos pelas televisões foram, naturalmente, sobre a condição da primeira-dama e mostraram um político à porta do hospital, proferindo as palavras da praxe. Mais à frente, no alinhamento dos telejornais, surge o mesmo António Costa, exactamente no mesmo local, a opinar sobre a situação da Grécia.

Ora, por mais que fosse pressionado pelos jornalistas para responder às “mil” perguntas sobre o estado de saúde Maria Barroso e a situação na Grécia quase em simultâneo, o líder socialista deveria ter sido resguardado. Assim, ficou no ar (eu fiquei com) a ideia de que António Costa fala sobre tudo e em qualquer sítio, desde que lhe coloquem uma câmara e um microfone à frente.

Em suma: não basta estar nos sítios e acreditar que se tiram vantagens de ser filmado para as televisões. Os mais desligados destas coisas da Comunicação podem argumentar que o cidadão comum não está interessado nestas minudências, quer é saber o que é que “eles” vão fazer se forem eleitos. Mas a eficácia da mensagem “deles” também passa por estes pequenos/grandes detalhes. Podem ser tão importantes como arranjar o nó da gravata antes de sair de casa.

terça-feira, junho 23, 2015

Corrida contra o tempo salvou barcos rabelos

Publicado às 00.22

MÁRIO BARROS
 
 
foto LISA SOARES/GLOBAL IMAGENS
Corrida contra o tempo salvou barcos rabelos
 
Os barcos rabelos foram concebidos para uma função muito específica: transportar os barris de Vinho do Porto desde o Alto Douro até às caves situadas em Vila Nova de Gaia. Regata vital para a manutenção deste património duriense.

O ano de criação das embarcações não está exatamente definido nos compêndios de história, sabendo-se que foi no ano de 1792 que a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro fez publicar os alvarás que concederam identidade própria a estes barcos, parte integrante da criação do Marquês de Pombal. Entre as décadas de 1960 e 1970, vergados ao peso da corrida desigual com os caminhos de ferro, os barcos rabelos estavam próximos da extinção física e já pouco restava destas relíquias. Por esses dias, os desolados estaleiros na ribeira de Gaia davam bem a ideia do trabalho que havia para fazer em termos de recuperação deste património.
Como refere Isabel Marrana, diretora da Associação das Empresas de Vinho do Porto, "os barcos rabelos estavam a desaparecer e foi lançada a ideia de fazer uma regata com todos os barcos rabelos então disponíveis, que eram só quatro. Houve o propósito de fazer uma celebração daquele que é um dos símbolos do Vinho do Porto e isso teve desde logo muito êxito. Nos primeiros dez anos de regata (que decorre amanhã) verificámos que a maioria das casas construiu barcos rabelo".
Como recorda António Vasconcelos, membro da Comissão Técnica das Regatas dos Barcos Rabelo, "nas primeiras regatas os barcos eram um bocado velhos e só havia da Ferreira e da Cálem". A Cockburn construiu o primeiro barco rabelo dos tempos modernos e essa foi "uma forma de preservar a vida dos barcos rabelos", acrescenta. Vida essa que chegou a estar em perigo anos depois: "numa das noites de S. João, um dos balões caiu no telhado da casa da Cockburn e provocou um incêndio que durou até às seis da manhã. A casa acabou por não participar na corrida..." A noite é de muitos perigos e hoje em dia as cautelas são redobradas, para prevenir sobressaltos. São as casas produtoras de Vinho do Porto quem arca com as despesas de conservação do património. Os 12 mil a 15 mil euros anuais que custa a manutenção dos barcos rabelos não são "chorados" mas, afiança Isabel Marrana, "nunca houve um cêntimo de incentivo para um evento que também é património cultural".

http://www.jn.pt/Dossies/dossie.aspx?content_id=4639310&dossier=Regata%20Barcos%20Rabelo

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Como se recupera um barco rabelo


Pinheiro, carvalho e ferro galvanizado. São os três materiais nobres que compõem um barco rabelo digno do nome.
Contam os especialistas na arte de construir ou recuperar uma embarcação como esta, que entre cinco a seis homens bastam para compor uma equipa para os trabalhos que podem durar entre três a quatro meses. De fundo chato, os rabelo têm como bitola o tamanho dos barris a transportar e navegam à semelhança de como faziam os barcos do Mediterrâneo e alguns de origem nórdica: de velas quadradas. Da complexidade do ato da construção, há um instrumento central a todo o processo: a enxó, utilizada para desbastar e trabalhar a madeira. É notável como um utensílio tão simples pode ser tão eficaz. O resto, bom, o resto é trabalho e muita sapiência, transmitida por gerações de homens bravos, com arte nas mãos.

http://www.jn.pt/Dossies/dossie.aspx?content_id=4639309&dossier=Regata%20Barcos%20Rabelo

domingo, junho 21, 2015

No JN de hoje: Regata de Rabelos é brincadeira séria

Eles são os mestres da embarcação, a quem se pede que comande a equipa e concretize ao pormenor tudo o que foi preparado durante as últimas semanas, orientando a tripulação ao longo dos cerca de três mil e 500 metros da prova. É deles, portanto, a grande responsabilidade de levar, literalmente, o barco a bom porto.
 
PEDRO CORREIA/GLOBAL IMAGENS
Tripulações dos barcos rabelos obedecem a regras bem definidas. E ninguém gosta de perder
Apesar deste protagonismo a bordo, ou talvez por causa disso mesmo, preferem manter a concentração antes do grande dia, deixando os foguetes de exaltação para depois da prova. É assim que o cenário pré-corrida fica traçado por António Vasconcelos, membro da Comissão Técnica da XXXII Regata dos Barcos Rabelo, que se realiza na próximo quarta-feira, a partir das 17 horas, entre o Cabedelo e a Ponte de Luís I, nas águas do Douro que banham Porto e Gaia.
"Isto não é uma competição, mas eu, que conheço todas as regatas desde o início, sei bem: todos dizem que é uma brincadeira, mas a competição existe", diz António Vasconcelos. E basta olhar para os regulamentos da regata para se perceber que esta é uma brincadeira para ser levada muito a sério: "Todas as tripulações [...] devem participar nesta manifestação com espírito desportivo. [Por isso], Deverá ser imposta à tripulação uma atitude de seriedade e sobriedade e qualquer quebra a este respeito será punida com um mergulho no rio".
Ora, quem se deslocar a uma das margens do Douro (Porto ou Gaia) vai poder constatar, seguramente, que há mínimos exigidos e devidamente inscritos nos regulamentos: cada tripulação tem de ser composta, obrigatoriamente, por um mínimo de seis tripulantes, as velas obedecem a dimensões mínimas e máximas, o comprimento dos barcos não pode exceder cinco vezes a área da vela, etc. E porque ninguém gosta de perder mesmo a feijões, "há casas que contratam antigos barqueiros" para comandar os barcos rabelo. Mas isso é segredo.
Na maior parte dos casos, os "skippers" são elementos das respetivas casas de vinho do Porto que, pela sua antiguidade e experiência, são escolhidos para liderar os barcos. Tem muita arte transformar em barco de corrida um rabelo, concebido para o transporte comercial das pipas de vinho desde o Alto Douro até às caves de Gaia. Parece fácil, mas não é. 

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Pais/interior.aspx?content_id=4636285

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Quem faz o quê num barco rabelo

Hoje às 00:06
Para melhor se perceber quem faz o quê dentro do barco rabelo, António Vasconcelos, membro da Comissão Técnica das regatas, abre o livro.
 
Dos seis elementos que obrigatoriamente têm de compor uma tripulação, dois trabalham na escota da vela, isto é, são responsáveis por manipular os cabos que controlam a posição da vela, ajustando-os em função dos ventos a cada momento da competição.
O controlo do leme (ou, de forma mais exata, da espadela) é da responsabilidade de um único elemento da tripulação e na verga (a vara de madeira colocada no mastro para prender a vela) há mais dois elementos.
"O sexto elemento é da Confraria [do Vinho do Porto], que vai na proa do barco para verificar se tudo decorre conforme os regulamentos", adianta António Vasconcelos. Se houver mais tripulantes... estão em funções mais lúdicas.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Pais/interior.aspx?content_id=4636284

No JN de sexta: A regata no rio Douro já começou

Competição de rabelos vai colorir as águas do rio Douro no próximo dia 24, feriado de S. João.
 
ARQUIVO/GLOBAL IMAGENS
 | 19/06/2015
A regata já começou, mesmo que os 14 barcos rabelos ainda estejam fundeados nas margens do rio Douro. Os últimos dias têm sido de grande azáfama para os "skippers" (capitães) e restante tripulação das 14 embarcações que na quarta-feira vão colorir, pela 32.ª vez, as águas do rio Douro, entre o Cabedelo e a ponte Luís I, a partir das 17 horas. Numa primeira análise, até pode parecer um espetáculo meramente lúdico, mas os preparativos para a prova que junta as principais marcas de Vinho do Porto, em representação das seis empresas que fazem parte da Confraria do Vinho do Porto, tiveram início há muitas semanas.
Isto porque, mesmo para os mais distraídos, está bom de ver que não basta ter um barco "parado" num cais (no caso, no de Vila Nova de Gaia) e esperar tranquilamente que chegue o dia da competição. Tal como acontece, por exemplo, com um automóvel a poucos dias de uma prova de rali, os barcos rabelos são inspecionados de uma ponta à outra: desde o casco, passando pelas amarras de cordas e pela espadela.
Para que um barco possa ser considerado apto para navegar tem de ser vistoriado pelo menos uma vez por ano e cada uma dessas inspeções tem um custo entre os 12 mil e os 15 mil euros. Daí que a maior parte dos armadores opte por ter apenas um barco, embora haja quem se mostre mais ambicioso e concorra com quatro, como é o caso da Symington. Sinais dos tempos, algumas das casas apresentam mais do que um barco porque entretanto houve fusões comerciais com outras casas/marcas.
Nascida da vontade dos produtores de Vinho do Porto, alarmados com a perspetiva de, um dia, estas históricas embarcações não passarem de uma realidade só possível de ver em museus, a Regata Barcos Rabelos começou por ser uma "brincadeira", como revela Isabel Marrana, diretora da Associação das Empresas de Vinho do Porto.
À época, eram só quatro os barcos existentes (o "Rio Torto", com a insígnia Dow"s é o mais antigo em prova), mas, aos poucos, e de forma consolidada, as várias casas foram aderindo a um evento que é um ex--líbris da cidade do Porto e dos festejos do seu santo popular, o S. João. Por isso, vale a pena poupar forças da noite de 23 para 24 e aproveitar o final da tarde para ver um espetáculo que até já mereceu as atenções do canal National Geographic.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Pais/interior.aspx?content_id=4633715

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"Memória pública do Porto é privada"
 | 19/06/2015
Isabel Marrana, diretora da Associação das Empresas de Vinho do Porto
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"Memória pública do Porto é privada"
Qual o impacto da regata?
A Confraria do Vinho do Porto foi feita para preservar a identidade do Vinho do Porto e a regata é disso exemplo. Há imensas histórias ligadas ao Porto e a confraria preserva não só essas tradições, como também tem um objectivo promocional, através da regata e da cerimónia anual de entronização. O Porto não tem a noção das pessoas que estes acontecimentos movimentam.
É difícil preservar a identidade?
Há uma memória pública do Porto que é privada. Se quiser lembrar--se do Porto, vê Gaia, os barcos e o Porto. Mas um dia que os barquinhos desapareçam "aqui-d"el-rei que não há barquinhos!". As pessoas dão como adquirida a existência dos barcos rabelos. É preciso manter esta memória, que é fruto de um esforço totalmente privado. Esta regata é também património cultural da cidade.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Pais/interior.aspx?content_id=4633716

segunda-feira, maio 11, 2015

Basta juntar água


Está cada vez mais em voga a publicação de textos nos variados meios de Comunicação Social o chamado texto “basta juntar água”. E o que são estes textos? Muito simples: juntam-se meia dúzia de conselhos sobre como ser mais eficaz nas reuniões com o chefe, ser mais produtivo no trabalho, ser feliz com um euro por dia no bolso, ir de férias para as Maldivas começando por trocar um clip na Internet,
Estas soluções milagreiras fazem lembrar-me os tempos em que, nas redacções, era “nomeada voluntária” a alma desgraçada para escrever o Horóscopo para o dia seguinte. O resultado estava bom de ver: “No plano profissional: não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Tarefas adiadas dão maus resultados. No plano afectivo: tenha cuidado com relações meramente físicas. Na saúde: durma bem e tenha cuidado com a alimentação.”

Também em:https://www.linkedin.com/pulse/basta-juntar-%C3%A1gua-m%C3%A1rio-barros?trk=hp-feed-article-title.

quinta-feira, abril 23, 2015

Brincar com o nosso outro eu

É sempre muito mais fácil lidar com o nosso outro eu. Afinal de contas, não somos nós. O nosso outro eu é assim como que um depósito lacrado da nossa má consciência. Atira-se para lá a culpa própria e já está! Nem é preciso juntar água. O espelho pouco nos diz. Bem vistas as coisas, se nos virarmos de lado quase passamos despercebidos e se lhe virarmos as costas ele cai no esquecimento. É sempre muito mais fácil brincar com o nosso outro eu.

segunda-feira, abril 20, 2015

E o povo não saiu à rua...

São já cerca de 1.500 os refugiados saídos de África, rumo à Europa, que morreram no Mar Mediterrâneo desde o início deste ano. Adjectivos não faltam, seguramente, para descrever o drama das longas viagens sem retorno que fazem milhares e milhares de refugiados políticos, refugiados de guerra, refugiados da fome e de outras perseguições, com o desespero e a esperança em cada um dos pratos da balança da própria vida.
Já muitos falaram e escreveram acerca da necessidade de a União Europeia tomar uma atitude conjunta e firme para travar ou, pelo menos, minimizar estas avalanches humanas, "condenadas" que estão a ficar nas mãos de traficantes sem escrúpulos e, sobretudo, na gaveta de baixo das prioridades dos governantes europeus (e não só). Eles, os emigrantes, constituem a base da pirâmide, não causam mossa de terrorismo nas nossas ruas, morrem entre eles... enfim, estão habituados à miséria e pouco mais acabam por ser do que meras estatísticas e votos de pesar nos livros de História. Isto pensarão alguns de nós, que ficamos mais chocados com um piloto tresloucado que matou 149 pessoas nas montanhas francesas, ou com um atentado ao jornal satírico "Charlie Hebdo". As tragédias, as loucuras humanas, não se medem pela quantidade de mortos, está visto, pois há umas que chocam mais do que outras. Pensamento errado e perigoso. A União Europeia tarda em colocar na mesa uma política comum e, mais do que isso, agir de forma colectiva e não olhando para o próprio umbigo.
Uma das provas disso mesmo é o facto de que, pelo menos até à hora em que escrevo este texto, não ter conhecimento de manifestações de rua a clamar por ajuda às vítimas do tráfico de seres humanos, bem como por acções firmes contra estes carrascos, que matam homens, mulheres e crianças sem qualquer escrúpulo.
Aguardemos para ficar a saber o que decidem os líderes europeus, na cimeira extraordinária de depois de amanhã. Se é certo que não existem curas milagrosas para uma tragédia com tais dimensões, seguro é que a União Europeia (e o Mundo) pouco têm feito para combater o tráfico de vidas nesta região do Mundo.


Foto: http://blogs.ft.com/the-world/2015/04/europes-mediterranean-crisis/